Teoria de Darwin e Wallace



 
Charles Darwin (à direita) e Alfred Wallace, os pais da teoria da evolução (Imagens: Wikimedia Commons).
Darwin e Wallace foram grandes naturalistas do século XIX, que criaram grandes teorias. Este artigo visa comparar a concepção de seleção natural em Darwin e Wallace, considerando suas obras tais como o Origin of Species (de Darwin) e Darwinism (de Wallace).
TEORIA DE DARWIN
Na introdução do Origin of Species, Darwin comentou que, durante sua viagem como naturalista do HMS Beagle, ficara bastante impressionado com certos fatos referentes à distribuição dos seres vivos que habitam a América do Sul e as relações geológicas existentes entre seus habitantes antigos e atuais. Ele acreditava que tais fatos poderiam trazer algum esclarecimento sobre a origem das espécies (Darwin, [1875], p. 6). Após o retorno da viagem, Darwin se dedicou ao estudo do problema e acabou concluindo que havia uma evolução dos seres vivos que ocorre através de um processo lento e gradual, através do acúmulo de pequenas modificações sobre as quais atua a Seleção Natural.
Darwin assim conceituou o princípio da seleção natural: “A esta preservação das diferenças e variações individuais favoráveis, e a destruição das prejudiciais eu chamei de Seleção Natural ou Sobrevivência do mais apto” (Darwin, [1875], p. 40). Para ele, a seleção natural implicava apenas na preservação das variações que surgem e são benéficas para o indivíduo sob suas condições de vida. E acrescentou: “Estou convencido de que a seleção é o principal, mas não o exclusivo meio de modificação das espécies” (Darwin, [1875], p. 43). Assim, embora a seleção natural fosse a principal causa de modificação das espécies, não explicava tudo. Ele admitia também a existência de outros processos que contribuíam para isso tais como a seleção sexual, a ação direta do ambiente e a herança das características obtidas pelo uso e desuso (Martins, 2006, pp. 263-264).
Darwin acreditava que na Natureza havia uma incessante luta pela existência e que nessa luta atuava de forma poderosa e perpétua a seleção natural (Darwin, [1875], p. 233). A luta pela existência podia ocorrer entre indivíduos de uma mesma espécie, entre indivíduos de espécies diferentes ou entre as espécies e o ambiente. Porém, ele dava mais destaque à competição entre indivíduos de uma mesma espécie (Bulmer, 2005, p. 133). 
Em um dos exemplos da aplicação do princípio da seleção natural, Darwin afirmou que em uma região submetida a transformações físicas, como uma alteração climática, muda a proporção entre número de indivíduos das diferentes espécies e é provável que algumas delas sejam extintas. As relações complexas que ligam entre si os indivíduos de uma espécie afetam seriamente todas as outras espécies, e nesse caso, ligeiras modificações favoráveis em qualquer grau, adaptando-os melhor às novas condições do meio ambiente, tendem a perpetuar-se. Desse modo, a seleção natural pode atuar sobre essas mudanças vantajosas nos indivíduos (Darwin, [1875], pp. 81-82). Conforme o naturalista britânico, as mudanças de condições de vida favorecem a seleção natural porque são mais propícias à produção de variações vantajosas. Essas variações se referem às diferenças individuais, que segundo o autor, teriam a mais alta importância porque além de serem transmitidas hereditariamente, fornecem material sobre o qual pode atuar a seleção natural (Darwin, [1875], p. 45).
Darwin utilizou o princípio da seleção natural para explicar a evolução de todos os seres vivos, inclusive do homem, incluindo suas faculdades morais e intelectuais. Embora ele não tivesse tratado da origem do homem no Origin, ele abordou este aspecto em uma obra posterior, The Descent of Man (1871). Considerando que as faculdades morais e intelectuais do homem derivaram-se de seus rudimentos nos animais inferiores, da mesma maneira e pela ação das mesmas leis gerais das quais derivou-se sua estrutura física (Darwin, [1871], p. 285). Além da seleção natural, Darwin sugeriu um outro mecanismo que poderia ocasionar a modificação das espécies: a seleção sexual. No Origin ele explicou que a seleção sexual está relacionada à luta entre indivíduos do mesmo sexo (em geral machos) pela posse do sexo oposto. A seleção sexual, diferentemente da seleção natural, está associada com a vantagem que certos indivíduos apresentam sobre os outros do mesmo sexo e da mesma espécie, somente naquilo que concerne à reprodução (Darwin, [1875], p. 43). Neste caso, em vez da sobrevivência, o fator crucial seria a reprodução. Qualquer caráter que fosse útil no sentido de obter uma companheira iria se desenvolver bastante no macho. Assim, segundo Darwin, quando machos e fêmeas de qualquer espécie animal apresentam os mesmos hábitos de vida, mas diferem sob o ponto de vista de estrutura, cor ou ornamentação, estas diferenças são devidas quase que unicamente à seleção sexual e eles as transmitem somente à sua descendência masculina (Darwin, [1875], p. 44).
Teoria de Wallace
Foi após a morte de Darwin que Wallace escreveu o livro Darwinism, procurando apresentar de forma unificada sua visão sobre a teoria de evolução. De um modo geral, a concepção apresentada por Wallace é compatível com a de Darwin; porém, há várias diferenças importantes. Wallace explicou que, em uma mesma ninhada, não há dois filhotes iguais. Mesmo que eles tenham a mesma cor, se observarmos atentamente veremos outras diferenças, como tamanho, proporção do corpo e membros, textura ou disposição do pelo. Assim, a variabilidade existe, mesmo em relação aos indivíduos com parentesco muito próximo. Ou seja: indivíduos da mesma espécie apresentam variabilidade. Ele explicou que o mesmo se aplicava às plantas (Wallace, 1890, p. 84).
Wallace considerava essas diferenças bastante importantes. Entretanto, o fundamental era a existência de uma tendência para que as mesmas fossem reproduzidas. Assim, através de um cruzamento cuidadoso, uma variação particular ou um grupo de variações poderia ser aumentado bastante sem, aparentemente, prejudicar a vida, crescimento ou reprodução da planta ou animal. Esse era o caminho seguido pela seleção artificial. Segundo este naturalista, através da seleção artificial nossos vegetais, frutos e flores vinham sendo obtidos. Podiam-se escolher raças de gado ou de aves domésticas, raças de cavalos e cães (Wallace, 1890, p. 84). De modo análogo a Darwin (ver Carmo, 2006, capítulo 2, seção 2.3), Wallace acreditava que as espécies na natureza se formavam através da seleção natural e procurou apresentar no decorrer de Darwinism uma série de fatos e argumentos que mostrassem isso (Wallace, 1890, p. 103). Como Darwin, ele considerava que a luta pela existência presente na natureza se devia ao grande poder de aumento de todos os organismos, que por sua vez são expostos a numerosos e variados perigos durante toda a sua existência. É somente por meio da exata adaptação de sua organização ao ambiente, incluindo seus instintos e hábitos, que eles poderão sobreviver e produzir descendentes que poderão ocupar seu lugar quando deixarem de existir (Wallace, 1890, p. 103).
Wallace afirmou que, além da luta pela existência entre animais, plantas e seus inimigos diretos, tais como animais que se devoram ou as forças da natureza que podem causar sua destruição, existe um outro tipo de luta que pode ocorrer entre espécies proximamente relacionadas, durante uma mesma época e que ocupam lugares próximos na natureza, quase sempre, termina com a destruição de uma delas (Wallace, 1890, p. 34). De modo semelhante a Darwin, Wallace considerava este tipo de luta, ou seja, de espécies muito próximas que ocupavam a mesma região, como sendo o mais severo (Wallace, 1890, p. 33). Como é bem sabido, a ideia de uma luta pela existência entre indivíduos de uma mesma espécie, indivíduos de espécies diferentes e dos indivíduos com o meio já aparecia em Darwin, no Origin (Carmo, 2006, capítulo 2, seção 2).
Wallace discutiu também o aspecto ético da luta pela existência, dedicando uma seção do capítulo 2 a este ponto, portanto, um espaço maior do que Darwin dedicara à discussão desse mesmo tema. Wallace comentou que diversos escritores tinham salientado que a luta pela existência trazia quantidades maciças de crueldade e dor e muitas pessoas questionavam se a dor, sofrimento e morte seriam invenções que podiam ser atribuídas a um Deus bondoso. Wallace considerava tal posicionamento exagerado e que o suposto tormento e miséria tinham pouca existência real. Eram mais o reflexo de sensações cultivadas e imaginadas por homens e mulheres em circunstâncias similares. Porém, na realidade, o sofrimento causado pela luta pela existência entre animais era totalmente insignificante (Wallace, 1890, p. 37). Como Darwin, ele acreditava que a seleção natural atuava somente no sentido de preservar as variações que fossem benéficas para o organismo (Wallace, 1890, p.120; Darwin, [1875], p. 40; Carmo, 2006, capítulo 2, seção 2.3). Entretanto, isso não implicava em qualquer lei que preconizasse um progresso na organização dos indivíduos (Wallace, 1890, p. 121), como supunha Lamarck na primeira lei que aparece na sua teoria da progressão dos animais, por exemplo (Martins, 1993, cap.5; Martins, 1997, pp. 35-37). Poderia ocorrer muitas vezes um avanço na organização, porém nem sempre, pois muitas vezes formas com organização mais simples permaneciam na natureza, como Wallace exemplificou através do caso da serpente que teria se desenvolvido a partir de algum tipo de lagarto que perdera seus membros (Wallace, 1890, p. 121).
Finalizando o capítulo sobre a seleção natural, Wallace apontou os fatos sobre os quais se apoiava a teoria: Esses fatos são, primeiramente, o enorme poder de aumento em progressão geométrica do qual são dotados todos os organismos, e a inevitável luta pela existência entre eles e, em segundo lugar, a ocorrência de muitas variações individuais combinadas com sua transmissão hereditária. 
REFERENCIA : http://www.abfhib.org/FHB/FHB-01/FHB-v01-20-Viviane-Carmo_Lilian-Martins.pdf

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